O duplo propósito de Deus - Ressurreição

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O DUPLO PROPÓSITO DA RESSURREIÇÃO

 

     Não é de se estranhar que as verdades que Deus particularmente exorta o Seu povo a considerar e lembrar sejam precisamente as verdades que nós somos mais propensos a considerar menos, e que nem sequer nos tentamos recordar quais são?
 

     Este é o caso da exortação relacionada com a ressurreição de Cristo, que Paulo, pelo Espírito Santo, nos deixou na sua última carta. Referimo-nos a II Tm.2:7-9:

     "CONSIDERA O QUE DIGO, PORQUE O SENHOR TE DARÁ ENTENDIMENTO EM TUDO.

     "LEMBRA-TE DE QUE JESUS CRISTO, QUE É DA DESCENDÊNCIA DE DAVID, RESSUSCITOU DOS MORTOS, SEGUNDO O MEU EVANGELHO;

     "PELO QUE SOFRO TRABALHOS E ATÉ PRISÕES, COMO UM MALFEITOR; MAS A PALAVRA DE DEUS NÃO ESTÁ PRESA."



A RESSURREIÇÃO EM SI

     Quando Paulo escreveu estas palavras a ressurreição de Cristo não tinha sido apenas profetizada no Velho Testamento e predita pelo próprio Senhor; agora era um facto bem provado historicamente.

     O Senhor "apresentou-Se vivo, com muitas e infalíveis provas" (Act. 1:3). Ele tinha sido visto por Pedro e os doze e outros (I Co. 15:5; Jo. 20:18-29). "Depois foi visto, uma vez, por mais de quinhentos irmãos" (I Co. 15:6).

     Em todo o lugar havia testemunhas que tinham testificado pessoalmente o Cristo ressurrecto. Além disso, o Espírito Santo também tinha dado testemunho, porque grandes sinais e maravilhas foram feitos pelos discípulos (Hb. 2:3-4).

     À afirmação de Paulo sobre os quinhentos que tinham visto o Senhor de uma só vez, ele acrescentou, "dos quais vive ainda a maior parte"; e podemos ter a certeza de que, se não houvesse testemunho abundante da ressurreição de Cristo naquela época, esta afirmação teria sido amplamente desafiada por escritores contemporâneos e ele teria sido solicitado de todos os lados para apresentar algumas destas quinhentas testemunhas.

     E a todo este testemunho em primeira-mão Paulo acrescentou o seu:

     "E por derradeiro de todos me apareceu também a mim, como a um abortivo" (I Co.15:8).

     Seria completamente irracional questionar este testemunho pessoal de Paulo.

     Anteriormente ele tinha negado veementemente a ressurreição de Cristo e tinha-se declarado contrário à sua pregação por considerá-la uma mentira infame. Ele tinha sido arqui-inimigo daqueles que procuravam persuadir Israel a confiar neste "Messias ressurrecto".

     Mas agora ele próprio fora persuadido e o seu testemunho foi adicionado aos dos outros. A pôr de parte a sua reputação e influência como fariseu, ele passou por grandes sofrimentos pelo Cristo que ele veio a conhecer e a amar.

     Ele sofreu trabalhos e foi roubado e apedrejado; ele passou frio, fome e nudez; ele foi ultrajado e chicoteado e aprisionado por causa da sua posição. Como pode um testemunho tão persistente, com um tão grande custo, advir de outra coisa, que não da mais profunda convicção?

     Por conseguinte, a ressurreição de Jesus Cristo, a semente de David, é um facto histórico, apoiado por evidências esmagadoras.

     Mas é só isto o que o apóstolo quer que nós consideremos e lembremos – o mero facto da ressurreição? Não, há mais – muito mais.


UM PROPÓSITO DUPLO

     Na sua exortação a Timóteo, parece que o apóstolo subentende que o facto da ressurreição não será mais questionado. É algo sobre a ressurreição que ele quer que Timóteo entenda e nunca perca de vista.

     Pedindo atenção especial para suas palavras e orando para que Deus lhe conceda a capacidade de compreender, ele diz:

     "Lembra-te de que Jesus Cristo, que é da descendência de David (Foi assim que Ele tinha sido pregado), RESSUSCITOU DOS MORTOS, SEGUNDO O MEU EVANGELHO" (II Tm.2:8).

     O ponto aqui é que havia claramente uma mensagem importante relacionada com a ressurreição, a qual tinha sido dada especificamente a Paulo.

     Diluir a frase "meu evangelho" e fazê-la referir-se meramente à proclamação de Paulo sobre a ressurreição em si, é roubar à passagem a grande verdade que Paulo enfatiza, pois certamente que para um homem de Deus como Timóteo, a exortação "Considera o que digo", e a oração para que Deus desse sabedoria, não teria precedido um mero lembrete do facto da ressurreição.

     Esta passagem indica que na ressurreição de Cristo, como na Sua encarnação e Sua crucificação, Deus tinha um propósito duplo. Havia a pregação de Jesus Cristo, como "a descendência de Davi", pelos doze, e a pregação desta mesma Pessoa segundo a revelação especial dada a Paulo. Em resumo, havia novamente um propósito profetizado e um propósito secreto.


A RESSURREIÇÃO E A PROFECIA

     Jesus Cristo, o Filho de David, é o personagem central no propósito profético de Deus.

     Se o nosso Senhor não tivesse sido o Filho de David, os Seus direitos ao Messiado teriam sido ocos e vazios.

     Foi com David que Deus fez o grande concerto do glorioso reino vindouro. Seria da semente de David que o grande Rei surgiria (II Tm. 7:12-19; Sl. 89:35-37).

     Os profetas, em harmonia, tinham-se unido em tais profecias, como Jr. 23:5:

     "EIS QUE VÊM DIAS, DIZ O SENHOR, EM QUE LEVANTAREI A DAVID UM RENOVO JUSTO; E, SENDO REI, REINARÁ, E PROSPERARÁ, E PRATICARÁ O JUÍZO E A JUSTIÇA NA TERRA."

     Foi como o Filho de Deus que o Novo testamento O apresentou (Mt. 1:1), que os anjos e os homens O anunciaram (Lc. 1:32,68-69), que os Seus seguidores se dirigiram a Ele (Mt. 15:22, 21:9,15).

     Foi como o Filho de David que Ele insistiu nos Seus direitos ao Messiado (Mt. 22:42-45) e foi como o Filho de David que Ele foi reconhecido como o Messias pelos Seus (Mt. 12:23).

     É verdade que, apesar de tudo isto, Ele foi crucificado e Pilatos tinha pendurado sobre Sua cabeça a Sua "acusação", "ESTE É JESUS, REI DOS JUDEUS" (Mt. 27:37), mas isto não era uma quebra no programa profético porque os profetas tinham claramente predito "os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de SEGUIR" (I Pe. 1:11). Realmente, que o Cristo ressurrecto reinaria sobre Israel e as nações, era um facto que os profetas, incluindo o próprio David, tinham colocado em muitos dos seus escritos.

     Assim, Pedro em Pentecostes cita o Salmo 16, salientando que David não se referia a ele mesmo, mas falava como profeta quando disse:

     "Pois não deixarás a minha alma no Hades, nem permitirás que o teu Santo veja a corrupção" (At. 2:27).

     E é com este argumento que Ele insiste nos direitos do Cristo ressurrecto ao trono de Israel.

     At. 2:29-31: "Varões irmãos, seja-me lícito dizer-vos livremente acerca do patriarca David, que ele morreu e foi sepultado, e entre nós está até hoje a sua sepultura.

     "Sendo pois ele profeta, e sabendo que Deus lhe havia prometido com juramento que do fruto de seus lombos, segundo a carne, LEVANTARIA O CRISTO, PARA O ASSENTAR SOBRE O SEU TRONO.

     "Nesta previsão, disse da ressurreição de Cristo: que a Sua alma não foi deixado no Hades, nem a Sua carne viu a corrupção."


     Como Pedro pregou este era o grande propósito profético da ressurreição de Cristo. Ele tinha sido ressuscitado dos mortos para sentar-se no trono de Seu pai, David. E foi nesta base que Pedro chamou a nação para se arrepender, dizendo:

     "Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos do refrigério pela presença do Senhor,

     "E envie Ele a Jesus Cristo, que já dantes vos foi pregado" (At. 3:19-20).


     Como sabemos, Israel não se arrependeu e os tempos do refrigério não vieram – ainda hoje não vieram, pois Deus não enviou Jesus então – e mesmo hoje ainda não O enviou de volta.

     Mas é aqui que a revelação do mistério entra, porque quando o pecado do homem atingiu o seu ponto mais elevado, Deus dispôs-se em salvar o principal dos pecadores e enviá-lo com as gloriosas novas relacionadas com a ressurreição de Cristo.


A RESSURREIÇÃO E O MISTÉRIO

     A pregação de Paulo sobre a ressurreição era realmente diferente da dos doze? A tradição pode negar que era, mas mesmo uma revisão casual do registo provará ao inquiridor honesto que havia uma enorme diferença.


Justificação

     Em primeiro lugar, com a revelação gradual do mistério através de Paulo, aprendemos pela primeira vez que:

     "(Jesus nosso Senhor) o qual por nossos pecados foi entregue, E RESSUSCITOU PARA NOSSA JUSTIFICAÇÃO" (Rm. 4:25).

     Em Pentecostes, Pedro, ou qualquer outro antes de Paulo, proclamou esta gloriosa verdade? Os que procurarem nas Escrituras descobrirão que não. Isto era parte do "segredo das boas novas" revelado a Paulo.

     A justificação em si não era, logicamente, nenhum segredo, mas o segredo da justificação do pecador é encontrado na ressurreição de Cristo e isto foi proclamado primeiro por Paulo.

     Este facto é tão importante que a crença na ressurreição de Cristo agora é uma parte integrante da fé salvadora. Lemos em Rm. 4:24 que a justificação nos será imputada se "CREMOS NAQUELE QUE DOS MORTOS RESSUSCITOU A JESUS NOSSO SENHOR."

     Em Rm. 10:9 isto é resumido como "a palavra da fé, que pregamos,"

     "A saber: se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu CORAÇÃO CRERES QUE DEUS O RESSUSCITOU DOS MORTOS, serás salvo."


Identificação

     Depois, há a grande verdade da identificação com o Senhor na Sua ressurreição.

     Quando foi que, antes de Paulo, alguém proclamou um baptismo em que os crentes "n’Ele (Cristo) também ressuscitastes pela fé no poder de Deus?" Porém, isto é exactamente o que o apóstolo ensina em Cl. 2:12.

     Em Ef. 2:5-6 ele entra em maiores detalhes:

     "Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, (Deus) nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos),

     "E nos ressuscitou juntamente com Ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus."


     E em Ef. 1:3 o apóstolo começa uma doxologia:

     "Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo."

     Novamente em Cl. 3:1 ele diz:

     "Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus."

     Oh, como as nossas bênçãos são mais elevadas e maiores do que qualquer coisa que já foi prometida ou oferecida a Israel! E assim Deus tem demonstrado as "abundantes riquezas da Sua graça", porque foi na rejeição do Filho de David que Deus escolheu Paulo para proclamar estas verdades gloriosas, oferecendo uma posição celestial e bênçãos celestiais àqueles que colocam a sua confiança no Rei Exilado, neste "presente século mau." Certamente, "onde o pecado abundou, superabundou a graça."


Vitória Sobre O Pecado

     Esta identificação com Cristo na Sua ressurreição também afecta as nossas vidas diárias, porque à medida que ocupamos a nossa posição e nos apropriamos das nossas bênçãos em Cristo, superamos os pecados da velha natureza naquela exacta medida. O apóstolo enfatiza este ponto repetidamente.

     Rm. 8:11-12: "E, SE O ESPÍRITO DAQUELE QUE DOS MORTOS RESSUSCITOU A JESUS HABITA EM VÓS, AQUELE QUE DOS MORTOS RESSUSCITOU A CRISTO TAMBÉM VIVIFICARÁ OS VOSSOS CORPOS MORTAIS, PELO SEU ESPÍRITO QUE EM VÓS HABITA.

     "DE MANEIRA QUE, IRMÃOS, SOMOS DEVEDORES, NÃO À CARNE PARA VIVER SEGUNDO A CARNE."


     Esta passagem não lida com a futura ressurreição dos mortos, mas com o poder vivificante do Espírito, o poder que nos pode ajudar aqui e agora a "andar... em novidade de vida." É justamente isto que o apóstolo quer dizer quando ele dá expressão ao desejo do seu coração:

     "PARA CONHECÊ-LO, E À VIRTUDE DA SUA RESSURREIÇÃO... PARA VER SE DE ALGUMA MANEIRA POSSO CHEGAR À RESSURREIÇÃO DOS MORTOS" (Fp. 3:10-11).

     Aqui, o apóstolo refere-se novamente, não a uma ressurreição futura do corpo, mas à ressurreição do crente com Cristo para andar em novidade de vida. Isto é evidente no facto do seu desejo ser conhecer agora "a virtude da Sua ressurreição", que é algo a alcançar, e dele confessar: "Não que já a tenha alcançado, ou que seja perfeito" (Fl. 3:10-12).

     Todavia, isto é o que ele já experimentou, em alguma medida, pela graça de Deus e através do Espírito Santo que vivificou e ressuscitou Cristo dos mortos; nós também podemos experimentá-la, porque a "lei do Espírito", a lei "de vida em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte" (Rm. 8:2).


Para Considerar e Lembrar

     Isto, e muito mais, é o que Paulo queria enfatizar quando disse:

     "Considera o que digo, porque o Senhor te dará entendimento em tudo.

     "Lembra-te de que Jesus Cristo, que é da descendência de David, ressuscitou dos mortos, segundo o meu evangelho;

     "Pelo que sofro trabalhos e até prisões, como um malfeitor; mas a palavra de Deus não está presa."


     Será que poderemos passar de ânimo leve sobre uma verdade tão graciosamente revelada e dada a nós com tão grande custo – uma verdade tão especificamente planeada para nós? Ou, tendo-a aprendido poderemos esquecê-la ou desistir dela por um pouco de benefício terrestre ou de algumas amizades terrenas?

     Não! Vamos ser verdadeiros Bereanos e considerar muito cuidadosamente e em oração o que Deus nos tem a dizer; e tendo recebido o entendimento necessário, vamos conservar isto como precioso e defendê-lo, seja qual for o preço.

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