O duplo propósito de Deus - Crucificação

crstam.jpg

O DUPLO PROPÓSITO DA CRUCIFICAÇÃO

     Como é fácil que uma ideia que não seja bíblica se torne numa tradição bem enraizada! E como é certo que qualquer tradição que não seja bíblica distorce os nossos pontos de vista e nos impede de entender claramente os propósitos e dispensações de Deus!


     Um exemplo de uma ideia não bíblica é a de que os santos do Velho Testamento, mesmo os que viveram desde Adão até Moisés, eram salvos pela fé na morte de um Cristo vindouro.

     Esta ideia, de uma forma ou outra, tem sido repetida tão frequentemente que veio a ser aceite como uma verdade bíblica, porém é totalmente sem fundamento; de facto, ela é negada definitiva e conclusivamente pelas Escrituras.

     Se esta afirmação choca alguns dos nossos leitores, vamos lembrar que tais choques às vezes são necessários para nos levar às Escrituras novamente e examinar as bases das nossas crenças.

     Entretanto, não queremos ser mal interpretados. Concordamos plenamente que agora se sabe que os santos de outrora eram salvos pelos méritos de Cristo. O ponto é que isto não foi revelado antes do devido tempo. Os santos, que viviam antes do Calvário, não eram salvos pela fé no sangue derramado de Cristo, como nós somos hoje, pois antes de Paulo o mundo não ouviu o que é chamado de "a palavra [mensagem] da cruz."

     Simplesmente porque Paulo declara em I Co. 15:3 que "Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras", muitos concluíram que os santos do Velho Testamento creram na Sua morte para a salvação, mas isto é colocar na passagem algo que ela não diz; também não há qualquer justificação para esta suposição no próprio Velho Testamento.

     O que Paulo está a dizer aqui é simplesmente que a morte de Cristo pelos nossos pecados estava de acordo com as Escrituras, não que a fé na morte de Cristo foi oferecida ou profetizada como um meio de salvação na época do Velho Testamento, e muito menos que os santos do Velho Testamento eram salvos pela fé no sangue derramado.

     Além disso, não devemos passar por cima do que Paulo diz sobre este "evangelho... que Cristo morreu por nossos pecados." Ele o chama de "o evangelho que já vos tenho anunciado" e acrescenta "primeiramente vos entreguei o que também recebi."

     A apresentação que ele faz da cruz era parte da revelação especial que lhe foi dada pelo Senhor glorificado e era distinta daquela que os doze tinham pregado, mas não entrava em conflito com ela – em vez disso, estava de acordo com as Escrituras proféticas.


A CRUCIFICAÇÃO E A PROFECIA

     É muito difícil impedir que a maioria dos estudantes da Bíblia antecipe as revelações. Eles colocam as epístolas de Paulo no Velho Testamento, como se Abraão e Moisés e Davi entendessem o que mais tarde foi revelado acerca de Cristo.


Abraão

     Alguns apontarão, por exemplo, João 8:56 como prova de que Abraão entendia sobre Cristo e a Sua obra consumada. Citaremos o versículo:

     "Abraão, vosso pai, exultou por ver o Meu dia, e viu-o, e alegrou-se."

     Esta passagem não diz, nem insinua, que Abraão entendia alguma coisa sobre a obra consumada de Cristo e esta ideia não deve ser subentendida ou colocada na passagem.

     Mas, argumentam, que quando Abraão e outros ofereciam sacrifícios de sangue deveriam ter entendido que estes sacrifícios eram tipos de Cristo. A nossa resposta novamente é que isto é colocar ideias nas Escrituras, porque a Palavra em si não fala nada sobre isto. Procure e veja.


Moisés

     Numa série de discussões sobre esta questão um pastor perguntou ao escritor se era possível que Deus tivesse dado a Moisés todas as instruções para a construção do tabernáculo com sua grande "porta", os seus altares de bronze e ouro, a sua pia, as suas lâmpadas douradas e a mesa com pães da propiciação, as suas cortinas finas, e a sua arca da aliança, sem explicar que estas coisas eram símbolos da pessoa e obra de Cristo. Respondemos que não era somente possível, mas que era muito evidente pelo registo.

     Uma vez que ele acreditava que Deus naquela época revelou o significado típico destas coisas, pedimos que ele desse uma referência para provar o seu ponto de vista. O pastor ficou calado porque ele não tinha nenhuma referência para dar como prova, porém, se o seu argumento tivesse sido correcto, deveríamos esperar encontrar Deus a explicar a Moisés como cada peça nova da mobília falava do Cristo vindouro. Mas, em vez disso, o silêncio quanto a isto é profundo e contínuo.


Os Profetas

     Outro pastor perguntou se não era evidente que os profetas entendiam as profecias, uma vez que nos seus próprios escritos encontramos passagens como Isaías 53. Respondemos que é claro que não entendiam.

     Isaías 53 é uma declaração profética. Ele escrevia enquanto era movido pelo Espírito Santo e não entendia necessariamente o que escrevia. De facto, I Pe. 1:10-11 afirma claramente que os profetas não entendiam as suas próprias profecias relacionadas com os sofrimentos e glória de Cristo. Lemos ali que eles "INQUIRIRAM E TRATARAM DILIGENTEMENTE."

     "Indagando QUE TEMPO ou QUE OCASIÃO DE TEMPO o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir."

     Veja bem: eles não somente inquiriram e procuravam quanto ao tempo em que estas coisas deveriam acontecer, mas também O QUE o Espírito que estava neles significava quando testificou de antemão os sofrimentos de Cristo e a glória que se deveria seguir.

     Algo pode ser mais claro? De acordo com esta passagem eles não sabiam o que o Espírito significava pelas profecias dos sofrimentos e glória de Cristo, e era-lhes dito que não podiam saber, uma vez que eles estavam a ministrar para uma geração futura. (Veja o v.12).

     Mas vamos fazer aqui uma pausa para considerar Isaías 53, porque daqui em diante o propósito profético da crucificação fica continuamente mais claro.


Isaías Cinquenta e Três

     "Todos nós andamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos" (Is. 53:6).

     Há algum tempo atrás ouvimos um querido obreiro cristão comentar sobre a passagem acima: "Se entrares no primeiro 'todos' podes sair no último", explicando que "todos" significava "todo mundo" e que apesar de todos se terem desviado, graças a Deus, Cristo morreu por todos.

     É verdade que AGORA podemos dizer que Deus, na Sua graça, colocou todas as nossas iniquidades sobre Cristo, mas, ensinar que Isaías nesta passagem se referia realmente à colocação dos nossos pecados sobre Cristo, sem dúvida seria uma exegese muito pobre, pois uma simples olhadela ao contexto revelará que ele falava exclusivamente como profeta hebraico. Quando ele diz "Todos nós andávamos desgarrados", o intérprete imparcial e cuidadoso das Escrituras perguntará "Todos, quem?" A resposta clara será encontrada não somente na profecia como um todo, mas até no contexto imediato, pois no versículo 8 ele torna claro que ele refere-se à sua própria nação quando diz:

     "Pela transgressão do MEU POVO foi ele atingido."

     Além disso, o tom de Isaías 53 não pode ser perdido de vista. O profeta não oferece a salvação através do Crucificado como é nossa alegria fazê-lo hoje. Pelo contrário, ele começa com um tom de desilusão. Quem acreditará na sua pregação? "Renovo... raiz duma terra seca; não tinha parecer nem formosura... nenhuma beleza... para que o desejássemos... desprezado... indigno entre os homens... homem de dores e experimentado nos trabalhos." Quem acreditaria que alguém assim seria o Salvador de Israel há tanto tempo prometido? "Mas," continua o profeta, "o Senhor fez cair sobre Ele a iniquidade de nós todos. Nós somos os culpados, mas como um cordeiro, foi levado ao matadouro por nós. Mas Deus O recompensará e Ele ainda verá resultados gloriosos da Sua submissão humilde." Esta passagem é típica das profecias do Velho Testamento. O profeta salienta que quando o Messias vier, será rejeitado e morto – tomando a culpa deles, mas isto ainda é bem diferente da proclamação da fé nos méritos da Sua morte como meio de salvação. Se Isaías tivesse entendido isto como agora nós o entendemos, o seu livro certamente estaria cheio destas coisas.

     A profecia de Isaías está de acordo com o propósito profético de Deus na crucificação. Como um cordeiro, o Messias submeter-Se-ia à crueldade do Seu povo a fim de que um dia a nação, condenada por aquele assassinato cruel e tocada pela Sua submissão humilde a esta morte, pudesse voltar-se para Ele.

     Uma passagem semelhante é encontrada em João 11:47-52, onde o sumo sacerdote incrédulo, sentindo que estava na hora de falar claramente sobre Cristo, zombou do conselho pela sua hesitação, dizendo:

     "Vós nada sabeis, nem considerais que nos convém que um homem morra pelo povo, e que não pereça toda a nação" (v. 49-50).

     É bem claro o que Caifás queria dizer com isto. "Se Ele é inocente ou não, não importa," raciocinou. "Precisamos de nos livrar d’Ele ou a nação inteira perecerá."

     A parte estranha lemos nos dois versículos seguintes:

     "Ora ele não disse isto de si mesmo, mas, sendo o sumo sacerdote naquele ano, PROFETIZOU QUE JESUS DEVIA MORRER PELA NAÇÃO.

     "E NÃO SOMENTE PELA NAÇÃO, MAS TAMBÉM PARA REUNIR EM UM CORPO OS FILHOS DE DEUS, QUE ANDAVAM DISPERSOS" (v. 51-52).


     Sim, naquele dia Caifás falou tanto por si como por Deus. Embora Cristo fosse inocente, Caifás e Deus propuseram que Ele deveria ser morto para o bem da nação. Entretanto, enquanto para Caifás isto significava uma injustiça cruel, para Deus significava misericórdia abundante.

     Na mesma categoria encontramos igualmente João 1:29.

     Existem muitos que supõem que João pregou o evangelho da graça de Deus e a salvação através do sangue por causa da sua afirmação:

     "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo."

     Se isto é verdade, porque é que ele pregou "o baptismo de arrependimento, para a remissão dos pecados"? (Mc. 1:4). E porque é que ele se recusou a baptizar os fariseus por eles não produzirem frutos dignos de arrependimento? (Veja Mt. 3:7-10). Isto era o Evangelho da graça de Deus?

     Agora sabemos que é impossível produzir-se bons frutos a menos que já tenhamos recebido a remissão dos pecados. Se João soubesse o que nós agora sabemos sobre a cruz, a sua mensagem inteira certamente teria sido muito diferente, mas Deus estava, na altura, no processo de demonstrar que o homem não pode produzir bons frutos à parte da graça de Deus. Foi para isso que a Lei foi dada.

     O que é que, então, João queria dizer com a sua declaração sobre o Cordeiro de Deus? Ele queria dizer exactamente o que Isaías e os profetas antes dele quiseram dizer.

     Não se esqueça de que o próprio Senhor apareceu no meio dos que tinham vindo para o baptismo de João confessando os seus pecados. Ali estava Ele, enumerado com os transgressores, e embora João se Lhe "opusesse", dizendo que ele, João, é que deveria ser baptizado e não Cristo, o Senhor insistiu. Embora não tivesse pecado, Ele tomou ali a culpa do pecado sobre Si mesmo. Por isso João salienta que o Manso, o Cordeiro de Deus, tira o pecado do mundo.


Os Doze Apóstolos

     Que João Batista não viu na sua própria afirmação inspirada o que nós agora vemos, fica talvez melhor provado indo-se para o registro da primeira proclamação do nosso Senhor sobre o Seu sofrimento e morte.

     "E, tomando consigo os doze, disse-lhes: Eis que subimos a Jerusalém e se cumprirá no Filho do homem tudo o que pelos profetas foi escrito;

     "Pois há de ser entregue às gentes, e escarnecido, injuriado e cuspido;

     "E, havendo-o açoitado, o matarão; e ao terceiro dia ressuscitará.

     "E ELES NADA DISTO ENTENDIAM, E ESTA PALAVRA LHES ERA ENCOBERTA, NÃO PERCEBENDO O QUE SE LHES DIZIA" (Lc. 18:31-34 e cf Mt. 16:21).


     Agora considere a inconsistência da ideia de que Abraão, Moisés, os profetas e João Batista entendiam e ensinavam o plano de salvação de Deus através da fé no sangue de Cristo, quando os doze, a quem o próprio Senhor tinha designado para pregar o evangelho do reino (Lc. 9:1-6), não entendiam, depois de aproximadamente dois anos de pregação, que Cristo iria morrer, um facto que os profetas, como já vimos, tinham claramente profetizado.

     Se é verdade que os crentes antes do Calvário eram salvos crendo na morte de um Cristo vindouro, seria possível que com toda esta riqueza e experiência do passado, os apóstolos de Cristo nem soubessem que Ele iria morrer? De facto, se a fé naquela morte tivesse sido necessária durante todo aquele tempo para a salvação, o nosso Senhor teria escolhido estes homens para proclamar o evangelho por Ele?

     Seja o que for que estejamos a ver agora na declaração de João, lembremo-nos disto – se o próprio João entendia nisto uma profecia da morte de Cristo ele certamente entendia muito mais do que os próprios apóstolos que estavam com Cristo e que tinham sido autorizados por Ele a pregar o evangelho do reino, pois numa ênfase tríplice a Palavra de Deus insiste que eles não tinham a menor ideia que Ele iria ser morto.


Pedro Em Pentecostes

     Muitos crentes consideram a cruz como a grande linha divisória e supõem que depois dela a fé na morte de Cristo certamente deveria ter sido proclamada para a salvação, mas isto não é verdade, porque não é antes de  Paulo que a cruz é proclamada como o grande remédio para o pecado.

     Na discussão mencionada acima o nosso oponente disse: "Certamente concordará que Pedro em Pentecostes pregou o evangelho da graça de Deus!"

     Negamos isto enfaticamente, perguntando-lhe o que era o evangelho da graça de Deus. "Bem", ele respondeu, "simplesmente que nós somos pecadores, que Cristo morreu pelos nossos pecados e que se confiarmos Nele como nosso Salvador, Deus nos aceita pela graça, através da fé."

     Então perguntamos-lhe se este era o plano e salvação que Pedro ofereceu em Pentecostes. Ele ficou surpreso por fazermos esta pergunta, mas quando o pressionamos para dar uma prova das Escrituras, ele procurou em vão por ela.

     Sim, Pedro em Pentecostes falou da cruz, mas como? Ele culpou os seus ouvintes pela crucificação de Cristo, procurando levá-los à convicção e confissão. (Veja Atos 2:23-36 e cf 3:13-15, 4:10-11, 5:28-31). Quando eles clamaram, "Que faremos?" o apóstolo disse-lhes o que era exigido.

     "E disse-lhes Pedro: ARREPENDEI-VOS, E CADA UM DE VÓS SEJA BAPTIZADO EM NOME DE JESUS CRISTO, PARA PERDÃO DOS PECADOS; E RECEBEREIS O DOM DO ESPÍRITO SANTO" (At. 2:38).

     Isto tudo estava em harmonia com o propósito profetizado de Deus na morte de Cristo. De facto, não é senão quando Israel, como uma nação, confessar a sua culpa na crucificação, que ela será salva.

     Vamos ver o que o profeta Zacarias diz sobre isto:

     "E sobre a casa de David, e sobre os habitantes de Jerusalém, derramarei o Espírito de graça e de súplicas; e olharão para Mim, a quem traspassaram; e o prantearão como quem pranteia por um unigénito; e chorarão amargamente por Ele, como se chora amargamente pelo primogénito.

     "Naquele dia será grande o pranto em Jerusalém...

     "E a terra pranteará...

     "...cada linhagem à parte, e suas mulheres à parte" (Zc. 12:10-14).


     Encontramos aqui o propósito profético da crucificação cumprida na conversão de Israel. Face a face com o seu Messias e finalmente convictos da sua culpa nacional, a sua vergonha será tão grande que não desejarão olhar a face uns dos outros. Cada um procurará um lugar para prantear em amargura sozinho, "cada linhagem à parte, e suas mulheres à parte."

     "E se alguém lhe disser: Que feridas são essas nas Tuas mãos? Dirá ele: São as feridas com que fui ferido em casa dos Meus amigos" (Zc. 13:6).

     Portanto, a crucificação terá realizado o que a revelação de Cristo em glória, à parte da crucificação, nunca podia ter realizado, porque os seus corações serão tocados e mudados.


Como Foram Salvos Os Patriarcas

     Antes de considerar a cruz à luz do mistério revelado a Paulo, vamos olhar brevemente para a salvação daqueles que viviam antes que ele fosse escolhido para entregar a dispensação da graça de Deus.

     Se a nós fosse perguntado: "como os antigos alcançaram testemunho?", responderíamos: "Pela fé." Se a nós ainda fosse perguntado: "Pela fé em quem e o quê?" responderíamos: "Pela fé em Deus e Sua Palavra." Que os santos de outrora eram responsáveis por acreditarem somente no que lhes tinha sido revelado, é um raciocínio são e é abundantemente confirmado pelas Escrituras. Hebreus 11 diz exactamente como vários indivíduos entre eles foram salvos. Exemplos:

     Hb. 11:4, "Pela fé ABEL ofereceu a Deus MAIOR SACRIFÍCIO do que Caim, PELO QUAL alcançou testemunho de que era justo, dando DEUS TESTEMUNHO DOS SEUS DONS, e por ela, depois de morto, ainda fala."

     Hb. 11:7 "Pela fé NOÉ, divinamente avisado das coisas que ainda se não viam, temeu, e, para salvação da sua família, PREPAROU A ARCA, PELA QUAL condenou o mundo, e FOI FEITO HERDEIRO DA JUSTIÇA QUE É SEGUNDO A FÉ."


     E Abraão?

     "Pois, que diz a Escritura? CREU ABRAÃO A DEUS, E ISSO LHE FOI IMPUTADO COMO JUSTIÇA" (Rm. 4:3).

     Mas vamos à passagem citada aqui ver no que foi que, exactamente, Abraão creu. Deus lhe disse que Cristo viria para morrer por ele? Certamente que não.

     "Então o levou fora, e disse: Olha agora para os céus, e conta as estrelas, se as podes contar. E disse-lhe: Assim será a tua semente.

     E CREU ELE NO SENHOR, E FOI-LHE IMPUTADO ISTO POR JUSTIÇA" (Gn. 15:5-6).


     Mesmo para João Batista – e até mesmo para Pedro em Pentecostes (não incluindo suas epístolas, é lógico), o propósito secreto de Deus na cruz ainda permanecia escondido, porque como já vimos, João e Pedro proclamavam arrependimento e baptismo, não os méritos da cruz, para a remissão dos pecados.


A Crucificação E O Mistério

     Meu amigo crente, como foi salvo? Alguém o culpou pela sua parte na crucificação de Cristo? Poderíamos ter sido culpabilizados, porque os nossos pecados também ajudaram a pregá-Lo ali. Mas não foi assim que fomos salvos; também não nos mandaram fazer alguma coisa para nos livrar da culpa daquela morte. Não, foi quando, convictos dos nossos pecados, alguém veio com as boas novas de que Cristo morreu pelos nossos pecados, que fomos salvos.

     Que revelação temos ao ver a cruz à luz das epístolas paulinas! Agora, subitamente, ela torna-se num objecto de glória – algo para regozijar! Cantamos sobre isto nas nossas igrejas e enviamos missionários para terras pagãs para contar aos perdidos a respeito disto.


O Segredo Das Boas Novas

     De acordo com a revelação de nosso Senhor glorificado a Paulo, a cruz é a base para a dispensação da graça de Deus. Através dos seus méritos Deus pode conceder de modo justo as riquezas extraordinárias da Sua graça sobre o pior pecador que as aceita pela fé,

     "Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus" (Rm. 3:24).

     "Em Quem temos a redenção pelo Seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da Sua graça" (Ef. 1:7).


     Na cruz situa-se "o mistério do evangelho (boas novas)" (Ef. 6:19).

     Quando Deus disse ao Seu povo que o oferecimento de sacrifícios de sangue os admitiria na Sua presença, isto era evangelho –boas novas. Quando Ele os convidou, "arrependei-vos, e cada um de vós seja baptizado... para o perdão dos pecados" isto também eram boas novas. Mas qual era o segredo destas boas novas? Como Deus podia fazer tais termos, de modo justo, para a salvação?

     Certamente "é impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire os pecados" (Hb.10:4), nem tão pouco oceanos de água podem tirar um pecado. O segredo jaz no que Deus iria realizar no Calvário.

     E agora que o principal dos pecadores foi salvo, também foi demonstrado o que foi realizado no Calvário; Deus não proclama mais o arrependimento e o baptismo para a remissão dos pecados como em Pentecostes. "Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado" (I Co.13:10). Agora Paulo, o grande exemplo da graça, declara que é sua a comissão dada por Deus para proclamar a justiça de Cristo para a remissão dos pecados, para ser recebida unicamente pela fé no sangue derramado.

     "Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a SUA JUSTIÇA PELA REMISSÃO DOS PECADOS dantes cometidos, sob a paciência de Deus;

     "Para demonstração da sua justiça NESTE TEMPO PRESENTE, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus" (Rm. 3:25-26).


     A crucificação de Cristo, então, possui o segredo da salvação dos santos das épocas passadas tanto quanto o derramamento da graça de Deus neste presente século mau.


As Boas Novas Do Segredo

     Há uma diferença entre o segredo das boas novas e as boas novas do segredo, embora estas duas expressões estejam muito relacionadas.

     Se não foi antes de Paulo que Deus revelou como é que  Ele podia levar as boas novas de salvação aos das épocas passadas, também não foi antes de Paulo que Ele tornou conhecidas as melhores novas de todas – o Seu propósito eterno e secreto de responder à rebelião do mundo contra o Seu Filho oferecendo aos Seus inimigos a reconciliação pela graça através da fé, formando assim o Corpo de Cristo, a Igreja desta dispensação. E neste plano a cruz possui novamente o lugar central.

     "E PELA CRUZ reconciliar ambos (judeus e gentios) com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades" (Ef. 2:16).

     "A vós também, que noutro tempo éreis estranhos, e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora contudo vos reconciliou.

     "NO CORPO DA SUA CARNE, PELA MORTE, para perante Ele vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis" (Cl. 1:21-22).


     "Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, CRAVANDO-A NA CRUZ" (Cl. 2:14).


A Nossa Glória

     "Havendo por Ele feito a paz pelo sangue da ua cruz" (Cl. 1:20).

     "Matando com ela as inimizades" (Ef. 2:16).

     Isto não é estranho e maravilhoso? Poder-se-ia supor que a cruz desfaria a paz e causaria a inimizade entre o homem e Deus. E falando profética e nacionalmente, foi isto que aconteceu. Veja Jeremias 25:31; Oseias 4:1, 12:2 e Miqueias 6:2, como Deus tem uma controvérsia com as nações e especialmente com a Sua própria nação, controvérsia que não se resolverá antes da cruz ser motivo de arrependimento. Seria apenas no propósito secreto e graça de Deus para com um mundo de pecadores individuais que a cruz mataria a inimizade e selaria a nossa paz.

     Em Pentecostes, a crucificação foi considerada uma matéria de vergonha e Pedro chamou a sua nação a arrepender-se do horrível crime. Porque Israel não se quis arrepender, a nação agora foi lançada fora da presença de Deus.

     Mas eis aqui Paulo a gloriar-se na cruz e a proclamá-la como o remédio glorioso para a terrível doença do homem. Ouça-o clamar:

     "Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus.

     "Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo?

     "Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria;

     "Mas NÓS PREGAMOS A CRISTO CRUCIFICADO, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos.

     "Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus" (I Co.1:18, 20, 22-24).


     De facto, esta revelação da cruz eliminou todas as obras humanas para a salvação e, com isso, toda a glória humana.
Agora a salvação é: "ÀQUELE QUE NÃO PRATICA, MAS CRÊ" (Rm.4:5). "ONDE ESTÁ LOGO A JACTÂNCIA? É EXCLUÍDA" (Rm.3:27).

     Só temos a cruz para nos gloriarmos! E nisto vale a pena gloriar! Que justiça perfeita foi ali manifestada, e ainda assim que amor infinito! Que sabedoria insondável! Que poder ilimitado!

     Não é de admirar que o apóstolo clame: "Que os outros se gloriem na carne",

     "MAS LONGE ESTEJA DE MIM GLORIAR-ME, A NÃO SER NA CRUZ DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, PELA QUAL O MUNDO ESTÁ CRUCIFICADO PARA MIM E EU PARA O MUNDO" (Gl. 6:14).

Sermões e Estudos

Carlos Oliveira 05DEZ25
Os ficheiros do caso Epstein

Tema abordado por Carlos Oliveira em 05 de dezembro de 2025

Carlos Oliveira 30NOV25
O crente como espelho

Tema abordado por Carlos Oliveira em 30 de novembro de 2025

Carlos Oliveira 28NOV25
Cristo: exemplo enganoso para a salvação

Tema abordado por Carlos Oliveira em 28 de novembro de 2025

Estudo Bíblico
1 Timóteo 2:9

Estudo realizado em 03 de dezembro de 2025

ver mais
  • Avenida da Liberdade 356 
    2975-192 QUINTA DO CONDE 





     
  • geral@iqc.pt 
  • Rede Móvel
    966 208 045
    961 085 412
    939 797 455
  • HORÁRIO
    Clique aqui para ver horário