Quando a tolerância é pecado
A tolerância pode ser uma virtude, mas também pode indicar uma fraqueza indesculpável de caráter. Nós admiramos a pessoa que tolera diferenças onde nenhum grande problema está em causa. Ela permite uma variedade de preferências, métodos e pontos de vista sem importância. Ela preferiria dar a vida por algo essencial do que por coisa fútil.
Mas há outra tolerância que é desprezível - a vontade de permanecer em silêncio quando o nome de Deus é blasfemado ou quando Cristo é desonrado. É a infidelidade e a traição do silêncio quando a verdade está no cadafalso. É a falta de vontade de falar contra o mal. A tolerância que tolera o engano, o erro e a injustiça é pecado.
Aqueles que pensam que Jesus foi sempre tolerante deveriam ler Mateus 23, uma denúncia da hipocrisia. Essa passagem prova agora e sempre que o nosso Senhor foi capaz de Se indignar com o fingimento de líderes religiosos. Ou deveriam ler Apocalipse 2:20 onde Ele condenou a igreja em Tiatira por tolerar uma mulher que ensinava, chamada Jezabel.
Paulo também foi intolerante com o mal. Ele até mencionou nomes, algo que é considerado inaceitável nos círculos evangélicos de hoje. Ele entregou Himeneu e Alexandre a Satanás, para que eles aprendessem a não blasfemar (1 Timóteo 1:20). Ele não hesitou em identificar Himeneu e Fileto como falsos mestres (2 Timóteo 2:17) e denunciou Alexandre, o latoeiro, pelo seu mau comportamento (2 Timóteo 4:14).
João também teve a coragem de nomear Diótrefes como alguém que gostava muito ter a preeminência (3 João 9).
Parece que a igreja hoje perdeu a sua capacidade de intolerância divina. Como Robert G. Lee disse: "Vivemos num mundo de teologia de invertebrados, moralidade mole, religião de embalar, convicções frouxas, filosofia virada que nos diz o que já sabemos em palavras que não entendemos".
Os escritos de William Barclay são outro exemplo. Barclay negou a divindade de Cristo, a inspiração das Escrituras, os milagres de Jesus e a Sua expiação substitutiva. Ele acreditava na eventual salvação de toda a humanidade. No entanto, os seus livros são vendidos na maioria das livrarias Cristãs. Ele é amplamente citado por proeminentes líderes evangélicos. E multidões de Cristãos estudam os seus livros com a desculpa ilusória de que "estes contêm informações valiosas". O facto de ser um herege, um blasfemo e um enganador não é importante. Nem, aparentemente, é importante a honra de nosso Senhor Jesus Cristo.
Um missionário na Índia estava certo quando escreveu: "A tolerância tornou-se tão tolerante que o mal está incluído nessa tolerância. Corremos o risco de nos tornarmos ‘prostitutos morais para nosso conforto conveniente".
É uma tolerância ímpia que tem permitido que tantos púlpitos na América tenham sido ocupados por "falsos apóstolos e obreiros fraudulentos, transformando-se em apóstolos de Cristo". Detetando uma semelhança com as condições dos dias de Elias, J. Sidlow Baxter escreveu: "Essas são as pessoas que hoje, com bondade doentia, toleram ensinadores de erros nos nossos púlpitos, porque são cavalheiros muito afáveis e amáveis. Eles preferem permitir que o erro seja pregado e que as almas sejam enganadas do que ferir os sentimentos do pregador. Que Baal seja adorado, e não venha a seca! Que o cancro mate a sua vítima, e não use o cruel cirurgião o bisturi!… A melhor coisa que pode acontecer a alguns dos chamados ministros Cristãos de hoje é que eles sejam denunciados em nome de Deus pelos ouvintes”.
Trata-se de uma tolerância pecaminosa que
- recusa a castigar um tipo de igreja falsa que conduz milhões à destruição eterna com o seu evangelho pervertido.
- honra esta sumidade como grande evangelista ao mesmo tempo que condena como lobos os crentes que realmente evangelizam.
- rotula os profetas de Deus como divisores quando denunciam a sua idolatria, a sua mariolatria e as suas outras heresias.
- envia os convertidos de volta às suas garras entorpecentes.
O que aconteceu com a igreja dos mártires?
Temos um enorme desejo de popularidade. É este o material de que são feitos os falsos profetas. Temos o desejo de evitar a contrariedade a todo custo. Um desejo assim impede que confrontemos, que intervenhamos quando devemos.
Não gostamos de ser diferentes. Achamos mais fácil movermo-nos com a multidão, para andar ao sabor da maré. É muito fácil permanecer em silêncio quando estamos num clima teológico adverso. Somos escravos da opinião pública, consciências agrilhoadas que nos escravizam.
Perdemos a capacidade de nos indignar. Nós não somos facilmente perturbados. Estamos num estado lastimável de não ter capacidade de indignação. Somos especialistas em adiar a determinação simplesmente porque não queremos agir.
Por vezes deixamo-nos cegar pela amizade e isso impede que nos posicionemos contra o mal. Quando um Cristão falou contra o livro de E. J. Carnell, "Em Defesa da Ortodoxia", porque este argumentava contra a inspiração das Escrituras, um amigo do autor disse: "Bem, vocês não o conhecem pessoalmente como eu. Ele é um cavalheiro gracioso, um homem piedoso”.
Jay Adams estava certo quando disse: "Em alguns círculos, o medo da controvérsia é tão grande que pregadores e congregações contentam-se com a paz a qualquer custo - até mesmo a custo da verdade - a verdade de Deus. A ideia é que a paz é muito importante. A paz é um ideal bíblico ... porém, a pureza também. A paz da igreja nunca pode ser comprada pelo preço da pureza da igreja. O preço é elevadíssimo”.
Ecumenismo e Catolicismo são hoje dois grandes clichês. Vamos todos juntos. Não faças nem digas nada que agite o barco. A doutrina divide, dizem eles. O que precisamos é de unidade.
O que realmente precisamos é de lutar fervorosamente pela fé num tempo em que ela está a ser atacada, diluída e negada. Seremos tolerantes em questões sem importância, mas intolerantes com o afastamento da verdade de Deus. Como Lutero, "Esta é a minha posição. Não posso agir de outra maneira. Que Deus me ajude. Amém”.
- William MacDonald