Actos Dispensacionalmente Considerados - CAPÍTULO XXI - ACTOS 12:25-13:1-3 (Cont.)

O COMEÇO DA PRESENTE DISPENSAÇÃO 

     Muito tem sido escrito sobre a questão do início histórico da dispensação da graça e do Corpo de Cristo1 mas será bom termos cuidadosamente em conta as consequências doutrinais e espirituais desta questão, para que não confundamos o principal com o secundário e assim nos tornemos indiferentes em relação a sérios erros por um lado, ou riscos ou discutir quanto a trivialidades por outro.

     Como salientámos, é um sério erro sustentar que a nova dispensação principiou em Pentecostes com Pedro e os onze operando sob a “grande comissão”.

     Este erro jaz na raiz da confusão que tem avassalado a Igreja desde que ela voltou as costas a Paulo no término da era apostólica. Explica o debate entre líderes Fundamentalistas dos nossos dias, quanto a “qual das comissões” (nos Evangelhos e nos Actos) é para nossa obediência. Explica, porque é que após dezanove séculos, os líderes do Fundamentalismo ainda não concordam quanto a qual é a nossa comissão, ou o que devemos concretamente fazer e ensinar.

     Tem resultado numa luta e divisão intermináveis a respeito do baptismo na água, da obra do Espírito Santo e do retorno de Cristo – questões que são imediatamente clarificadas no momento em que o ministério distinto de Paulo é reconhecido. O produto moderno mais notável deste erro tem sido o fanatismo Pentecostal que se tem espalhado pelo mundo “Cristão” nas asas do argumento Fundamentalista de que devemos obedecer à “grande comissão” e em resposta ao seu clamor: “Retorno a Pentecostes!”

     A.E. Bishop no seu panfleto, Tongues, Signs and Visions (Línguas, Sinais e Visões), perguntou muito bem:

     “Será o Espírito de Deus ou Satanás que volta os olhos de Cristãos sinceros para o retorno a Pentecostes e os desvia do alvo colocado diante deles em Efésios, Filipenses e Colossenses?”

     E o Dr. Lewis Sperry Chafer argumentou correctamente:

     “ ... Não pode ser determinado quanto da presente confusão sectária e pecado poderiam ter sido evitados, tivesse havido uma ênfase clara e primária sobre a doutrina Paulina da verdadeira Igreja ...” (Systematic Theology (Teologia Ssistemática), Vol. IV, P. 147).

     Contudo o ensino de que a presente dispensação, ou o Corpo de Cristo, não teve o seu início histórico senão depois do término dos Actos não constituiu um erro menos sério, pois se Satanás tem tido êxito em confundir e obscurecer a grande revelação do Senhor glorificado por um lado, tem tido também êxito em dividi-la em dois por outro, de tal forma que as primeiras epístolas supõe-se que não foram dirigidas aos membros do Corpo unido, mas “grandemente Judaicas”, tendo “o reino de Cristo em vista”. No nosso livro The Fundamentals of Dispensationalism (Os Fundamentos do Dispensacionalismo), tratámos extensivamente desta cegueira e mostrámos não somente que o ministério inicial de Paulo, de acordo com o registo dos Actos, foi primariamente entre os Gentios, não entre os Judeus,2 mas também que todas as suas primeiras epístolas foram dirigidas aos Gentios na carne. Mas aqui basta dizer que a seriedade deste erro jaz no facto de se negar que as primeiras epístolas de Paulo têm em vista o mistério e o Corpo unido, na verdade, que de modo algum têm alguma coisa a ver particularmente connosco. O crente fica assim privado das verdades importantíssimas que formam o fundamento do mistério e visam a sua instrução e obediência como membro do Corpo de Cristo.

     Actos 28 assinala um fim, não um princípio. Deus ali, por intermédio de Paulo pronuncia a sentença de queda e ruína sobre aquela geração em Israel (Actos 28:25-28). Mas não se segue daqui que a nova dispensação começou nesta altura. Os que assim supõem falham totalmente em ver o desenvolvimento, a extensão da progressão, na introdução do maravilhoso plano de Deus. As primeiras epístolas de Paulo e a última metade dos Actos proporcionam e oferecem uma enorme gama de evidências estarrecedoras de que a nova dispensação emergiu gradualmente como gradualmente desapareceu a velha (Ver Actos 13:38-41,46,47; 15:1-29; 18:6; 20:24,32; 28:28; Rom.1:13-16; 3:21-28; 11:32,33; I Cor.1:17,18,23;2:6,7; II Cor. 5:14-21; Gál 2:2,7,9; etc).

     Dividir o ministério de Paulo em dois (como faz a teoria de Actos 28) é plenamente tão sério como confundi-lo com o dos doze(como faz a teoria de Actos 2). Ambas as teorias mexem com a doutrina Escriturística da distinção do mistério e da autoridade de Paulo.

     Se a teoria de Actos 2 nega a distinção absoluta do apostolado e ministério de Paulo ao assumir que os doze sob a “grande comissão” pregaram “o Evangelho da graça de Deus” como mais tarde Paulo, a teoria de Actos 28 faz o mesmo ao assumir que Paulo pregou “o Evangelho da circuncisão” como os doze. Porém em parte alguma lemos que Paulo tivesse “dois evangelhos”, um proclamado antes do término dos Actos e outro depois. 

     Tanto nas primeiras como nas últimas epístolas lemos sempre acerca de “o meu Evangelho”, no singular (Rom. 2:16; II Tim.2:8) e parece-nos que a maldição de Gál. 1:8,9 cairá tão pesadamente sobre os que dividem o seu evangelho em dois como sobre os que o confundem com a mensagem Pentecostal.3

     É verdade que Paulo confirmou a mensagem dos doze; assim também nós, porque o que eles pregavam era verdade; e assim também Pedro confirmou a mensagem de Paulo (II Ped. 3:15,16). Também é verdade que Paulo foi salvo sob a velha dispensação e emergiu dela gradualmente, mas desde a sua conversão em diante ele foi especialmente chamado a proclamar, cada vez mais plenamente, uma grande mensagem: “o Evangelho da graça de Deus” (Actos 20:24). Ele seria um ministro e uma testemunha das coisas que ele TINHA VISTO4 das coisas pelas quais o Senhor ainda lhe APARECERIA (Actos 26:16; cf. Gál. 1:11,12).

     À luz da mutilação que fazem à grande mensagem Paulina, não é sem significado o facto da confusão doutrinária entre os que sustentam que a dispensação principiou em Actos 28 ou depois ser tão enorme como a que regista entre os que sustentam que começou em Pentecostes.

     Há uma posição a respeito do início da Igreja desta dispensação que se apresenta como um teste à Palavra bem dividida. Pode ser declarada e determinada como se segue:

     O Corpo de Cristo teve o seu início histórico com Paulo, antes dele ter escrito a sua primeira epístola.

     Entre os que sustentam esta posição pode haver alguma diferença de opinião quanto ao tempo preciso do início, mas é precisamente aí onde devemos ter cuidado em distinguir entre o principal e o secundário, a fim de não “coarmos um mosquito e engolirmos um camelo”.

     As teorias de “Actos 2” e de “Actos 28” não são apenas incorrectas tecnicamente como ambas violentam a revelação Paulina e afectam a nossa doutrina e programa como membros do Corpo de Cristo. Porém, nem a mensagem Paulina nem a nossa doutrina e prática como membros do Corpo são de alguma forma afectadas pelos pontos de vista de que o Corpo principiou em Actos 9, Actos 13 ou algures num ponto intermédio. Esta diferença apenas afecta a interpretação dos capítulos intermédios e respectivos versículos individualmente no seu relacionamento. Assim a diferença de opinião aqui não é vital e portanto não constitui de forma alguma um problema.

     Ou analisemos doutro modo. Poderemos provar pelas Escrituras que o Corpo não principiou em Pentecostes com Pedro e os onze? Sim, podemos. Poderemos provar pelas Escrituras que principiou com Paulo antes dele ter escrito a sua primeira epístola? Sim, podemos. Mas as Escrituras dizem, literalmente, exactamente como principiou? Não, não literalmente. Haverá alguma passagem bíblica que possa deixar uma implicação clara a respeito do início histórico da dispensação da graça e do Corpo de Cristo? Quanto a isto poderá haver alguma diferença de opinião mas, lembremo-nos, a diferença é técnica, não afectando de forma alguma quer a nossa doutrina quer a nossa prática. Não façamos um problema daquilo que Deus não faz.

Contudo, os verdadeiros Bereanos considerarão mesmo estas diferenças secundárias de mentes abertas, à luz da Palavra, pois, individualmente, todas as passagens das Escrituras estão relacionadas com o contexto, e uma compreensão mais clara de qualquer uma delas ajudará a clarificar a nossa compreensão do todo.


1 Não existe qualquer justificação para se divorciar o mistério do Corpo da dispensação da graça, pois o mistério é a dispensação da graça como revela claramente Ef. 3:2,3. “Se é que tendes ouvido a dispensação da graça de Deus, que para convosco me foi dada; como me foi este mistério manifestado pela revelação” (Versão King James). Assim o Corpo (o tema do Mistério) é o produto da dispensação da graça. Os Judeus e os Gentios crentes, pela graça e na base da obra consumada de Cristo, são reconciliados com Deus num corpo (Ver Rom. 11:32; Ef. 2:16; 3:1-11).

2 Ele foi ao Judeu primeiro no seu ministério inicial, mas isso é uma coisa muito diferente. Deus não deixaria Israel sem desculpa quando pôs de parte a nação.

3 O Dr. Arno C. Gaebelein escreveu a respeito deste anátema de Paulo: “Ele falava deste Evangelho que ele pregava como “o meu Evangelho”. Em defesa desse evangelho, a dispensação da graça de Deus, ele escreveu aos Gálatas: ‘Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. Assim como já vo-lo dissemos agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema’. Estas palavras são solenes. Têm sido ocasionalmente classificadas como uma esclamação exaltada de Paulo, quando ele viu a sua autoridade minimizada pelos ensinadores Judaízantes que atribulavam os Gálatas. Elas não foram de modo algum isso ... A maldição de Deus cairá certamente sobre os que pervertem ou falsificam esse Evangelho” (God’s Masterpiece (A Obra Prima de Deus) – P.117).

4 Na sua conversão.
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