O choro da aflição
Em lugar algum Deus prometeu a qualquer pessoa, e mesmo aos Seus filhos, imunidade à tristeza, aflição, sofrimento e dores. Este mundo é mesmo "um vale de lágrimas", e a decepção e as dores de coração são inevitáveis como sombras e nuvens. O sofrimento muitas vezes é o cadinho em que se prova a nossa fé. Aqueles que destemidos enfrentam "a fornalha da aflição", e por ela passam vitoriosamente, são os que poderão apresentar-se "como ouro purificado no fogo".
A Bíblia ensina-nos de modo iniludível que podemos triunfar sobre a aflição. O Salmista disse: "O choro poderá durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã" (Salmo 30:5) .
A comiseração de si mesmo não propicia consolo duradouro. Pelo contrário, ela aumenta a nossa desdita. A incessante tristeza dar-lhe-á precário consolo, porque a tristeza gera tristeza. A aflição contínua só pode multiplicar a sua tristeza. Nunca relate amiúde as suas tristezas e aflições, nem deplore a sua má fortuna – porque somente deprimirá os que ouvirem isso. A tristeza, ou o choro, quando surge na estrada do Cristão, traz no seu bojo consolo assaz construtivo. "Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados."
Há consolo no choro, porque sabemos que Cristo está connosco. Ele disse: "Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos" (Mateus 28:20). O sofrimento é suportável quando não nos encontra sozinhos; e quanto mais compassiva e compreendedora é a presença d’Ele, menos aguda é a aflição.
Quantas vezes na nossa infância, tendo ferido um dedo do pé, ou uma perna, ou cortado a mão, corremos logo para os braços da nossa mãe, para ali chorarmos as nossas mágoas? Atendendo-nos pressurosa, e ternamente beijando a ferida, ela partilhou connosco a magia da cura. E daí partimos, meio curados e inteiramente consolados. O amor e a compaixão contêm um maravilhoso bálsamo, mais forte do que todos os unguentos e pomadas fabricadas pelo homem.
Jesus disse: "Não se turbe o vosso coração... crede.., em Mim" (João 14:1). Quando a fé é forte, as perturbações são ninharias.
Há ainda consolo no choro, porque, no meio da aflição e pranto, Deus dá-nos um cântico. Deus diz em Jó 31:9: "mas agora sou a sua canção." A presença d’Ele na nossa vida muda o nosso lamento em cântico, de modo que tal cântico é uma canção consoladora.
Este consolo é daquela natureza que possibilitou a um certo Cristão inglês encarar uma cratera escura e profunda onde se situara a sua casa, antes dum bombardeio, e dizer: "Sempre desejei muito ter uma cave na minha casa, e eis que agora tenho-a. Agora posso construir alegremente uma casa exactamente como há tempo vinha desejando."
Esta espécie de consolo é que habilitou uma jovem esposa de certo pastor, numa igreja vizinha à nossa, a dar aula à sua classe de jovens da Escola Dominical no mesmo dia em que enterrara o marido. O choro daquela fiel Cristã não era dessa espécie que perde todas as esperanças – era um lamento de fé e confiança na sabedoria e bondade de Deus, pois sabia perfeitamente que o nosso Pai celestial nunca comete erros.
Antes de se descobrir o poder do átomo, a ciência teve que descobrir um meio de "despedaçar" o átomo. O segredo do ilimitado e imensurável poder do átomo estava no facto de ser ele reduzido ou esmagado.
Assim, também na nossa vida há bem-aventurança no choro. As almas sensíveis cantam mais docemente. Não se pode comparar o coaxar dos grandes sapos com o suave trinado dum canário, porque o sapo é bem menos sensível à dor, aos ventos frios e à privação. Quanto mais altas as formas da vida, maior é a sensibilidade ao sofrimento.
O Dr. Eduardo Judson, falando de como viveu o pai dele, o grande missionário Adoniram Judson, por ocasião da dedicação da "Judson Memorial Church", na cidade de Nova York, disse: "O sofrimento e o sucesso caminham sempre juntos. Se conseguimos êxito sem sofrimentos é porque outros antes de nós sofreram; e, se sofremos sem obter êxito, é para que outros depois de nós alcancem vitória."
"Bem-aventurados os que choram." São bem-aventurados, porque sabem que os seus sofrimentos, dores e penas e falta de recursos, são as dores de parto duma nova criação, de um mundo novo e melhor. São bem-aventurados, porque sabem que o Artífice Supremo – Deus – está empregando ao mesmo tempo luz e sombra a fim de conseguir uma obra prima digna da Sua divina maestria.
Podem, assim, gloriar-se nas suas enfermidades, e sorrir através das lágrimas, e também cantar no meio das suas tristezas, porque sabem que na economia de Deus " Se sofrermos, também com Ele reinaremos" (II Timóteo 2:12).
Billy Graham